O “novo normal” pós-pandemia alimentou um novo pico na produção de madeira, com mais de 4 bilhões de metros cúbicos produzidos somente em 2022. Ao mesmo tempo, as últimas estimativas mostram que a demanda por madeira em tora pode crescer 49% entre 2020 e 2050, alimentada pelo desenvolvimento de madeira em massa, biomassa e produtos celulósicos.

Isso acontece no momento em que os formuladores de políticas se esforçam para administrar o precioso estoque florestal, que agora está sob ameaça existencial devido às mudanças climáticas.

É o que afirma a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que publicou e que mostra evidências de que as mudanças climáticas estão tornando as florestas mais vulneráveis a fatores estressantes, como incêndios florestais e pragas.

De acordo com a FAO, a intensidade e a frequência dos incêndios florestais estão aumentando, inclusive em áreas que não eram afetadas anteriormente, com os incêndios liberando cerca de 6.687 megatoneladas de dióxido de carbono globalmente somente em 2023.

Ao mesmo tempo, os nematoides da madeira do pinheiro estão causando danos significativos às florestas nativas de pinheiros em alguns países asiáticos, e espera-se que as florestas norte-americanas também sejam destruídas por insetos e doenças nos próximos 2 a 3 anos.

“A FAO reconhece que a ciência e a inovação são ingredientes cruciais para alcançar soluções baseadas em florestas”, disse o Diretor-Geral da FAO, QU Dongyu, no prefácio do relatório, acrescentando que “esta edição informará o trabalho da FAO para ampliar a inovação baseada em evidências na silvicultura”.

De acordo com o relatório, as remoções globais de madeira em tora — um indicador de produção e consumo — aumentaram significativamente entre 1961 e 1990, estagnando por duas décadas até 2010, em 3,5 bilhões de metros cúbicos por ano, antes de decolar novamente após o colapso da União Soviética, a reunificação da Alemanha e a crise financeira global.

Curiosamente, “o mundo produziu 13% mais madeira em tora em 2022 do que em 1990”, disse a FAO, “dado que, no mesmo período, a população mundial aumentou em 50% e o PIB mundial per capita cresceu em 174%, o crescimento da produção de madeira em tora pode ser considerado moderado, com a produção de madeira per capita diminuindo nas últimas décadas”.

“A Covid-19 teve um impacto de curto prazo na produção e no comércio de produtos florestais”, disse a FAO, acrescentando que “a produção e o comércio diminuíram para a maioria dos produtos de madeira em 2022 devido a interrupções nas cadeias de suprimentos globais, combinadas com uma desaceleração na demanda do consumidor e a introdução de novas restrições comerciais em alguns países”.

Embora as remoções globais de madeira em tora industrial tenham permanecido quase inalteradas em 2022, em comparação a 20221, em 2,04 bilhões de metros cúbicos, “o comércio global caiu drasticamente em 2022 — em 17% — para 119 milhões de metros cúbicos, compostos por 37% das importações para a China. As restrições à exportação de toras introduzidas pela Federação Russa foram responsáveis ??por metade da contração global.”

“De acordo com as projeções, a produção mundial de madeira em tora aumentará de 4 a 8% entre 2022 e 2030”, disse. “A produção pode aumentar de 6 a 32% entre 2022 e 2050 (com a incerteza aumentando significativamente no longo período)”, e em termos de volume de madeira em tora, “o aumento projetado para 2050 varia entre 240 milhões de metros cúbicos e 1 200 milhões de metros cúbicos, dependendo do cenário”.

No entanto, essas estimativas não consideram novas categorias de produtos, incluindo produtos de madeira projetados, biocombustíveis e produtos químicos, que foram priorizados no esforço para descarbonizar. Como resultado, a FAO fez estimativas adicionais para incluir os impactos potenciais de três produtos florestais emergentes considerados os produtos de madeira mais promissores para a substituição em larga escala de materiais não renováveis:

• Madeira maciça/madeira laminada cruzada (CLT) para construção;
• Fibras celulósicas artificiais provenientes da dissolução de polpa de madeira, utilizadas principalmente na indústria têxtil e;
• Combustível de madeira para bioenergia.

“Estima-se que a demanda por esses produtos aumente o consumo de madeira em tora em até 272 milhões de metros cúbicos por ano até 2050, em comparação com 2020”, disse a FAO, “isso equivale a um aumento total no consumo global de madeira em tora (produção) de 49%”.

Fonte: JASONN ROSS (2024)